HISTÓRIA DA ENFERMAGEM:
Origem
da Profissão
A
profissão surgiu do desenvolvimento e evolução das práticas de saúde
no decorrer dos períodos históricos. As práticas de saúde instintivas
foram as primeiras formas de prestação de assistência. Num primeiro estágio
da civilização, estas ações garantiam ao homem a manutenção da sua
sobrevivência, estando na sua origem, associadas ao trabalho feminino,
caracterizado pela prática do cuidar nos grupos nômades primitivos,
tendo como pano-de-fundo as concepções evolucionistas e teológicas,
Mas, como o domínio dos meios de cura passaram a significar poder, o
homem, aliando este conhecimento ao misticismo, fortaleceu tal poder e
apoderou-se dele.
Quanto
à Enfermagem, as únicas referências concernentes à época em questão
estão relacionadas com a prática domiciliar de partos e a atuação
pouco clara de mulheres de classe social elevada que dividiam as
atividades dos templos com os sacerdotes.
As
práticas de saúde mágico-sacerdotais, abordavam a relação mística
entre as práticas religiosas e de saúde primitivas desenvolvidas pelos
sacerdotes nos templos. Este período corresponde à fase de empirismo,
verificada antes do surgimento da especulação filosófica que ocorre por
volta do século V a.C. Essas ações permanecem por muitos séculos
desenvolvidas nos templos que, a princípio, foram simultaneamente santuários
e escolas, onde os conceitos primitivos de saúde eram ensinados.
Posteriormente, desenvolveram-se escolas específicas para o ensino da
arte de curar no sul da Itália e na Sicília, propagando-se pelos grandes
centros do comércio, nas ilhas e cidades da costa.
Naquelas
escolas pré-hipocráticas, eram variadas as concepções acerca do
funcionamento do corpo humano, seus distúrbios e doenças, concepções
essas, que, por muito tempo, marcaram a fase empírica da evolução dos
conhecimentos em saúde. O ensino era vinculado à orientação da
filosofia e das artes e os estudantes viviam em estreita ligação com
seus mestres, formando as famílias, as quais serviam de referência para
mais tarde se organizarem em castas. As práticas de saúde no alvorecer
da ciência - relacionam a evolução das práticas de saúde ao
surgimento da filosofia e ao progresso da ciência, quando estas então se
baseavam nas relações de causa e efeito. Inicia-se no século V a.C.,
estendendo-se até os primeiros séculos da Era Cristã.
A
prática de saúde, antes mística e sacerdotal, passa agora a ser um
produto desta nova fase, baseando-se essencialmente na experiência, no
conhecimento da natureza, no raciocínio lógico - que desencadeia uma
relação de causa e efeito para as doenças - e na especulação filosófica,
baseada na investigação livre e na observação dos fenômenos,
limitada, entretanto, pela ausência quase total de conhecimentos
anatomofisiológicos. Essa prática individualista volta-se para o homem e
suas relações com a natureza e suas leis imutáveis. Este período é
considerado pela medicina grega como período hipocrático, destacando a
figura de Hipócrates que como já foi demonstrado no relato histórico,
propôs uma nova concepção em saúde, dissociando a arte de curar dos
preceitos místicos e sacerdotais, através da utilização do método
indutivo, da inspeção e da observação. Não há caracterização nítida
da prática de Enfermagem nesta época.
As
práticas de saúde monástico-medievais focalizavam a influência dos
fatores sócio-econômicos e políticos do medievo e da sociedade feudal
nas práticas de saúde e as relações destas com o cristianismo. Esta época
corresponde ao aparecimento da Enfermagem como prática leiga,
desenvolvida por religiosos e abrange o período medieval compreendido
entre os séculos V e XIII. Foi um período que deixou como legado uma série
de valores que, com o passar dos tempos, foram aos poucos legitimados a
aceitos pela sociedade como características inerentes à Enfermagem. A
abnegação, o espírito de serviço, a obediência e outros atributos que
dão à Enfermagem, não uma conotação de prática profissional, mas de
sacerdócio.
As
práticas de saúde pós monásticas evidenciam a evolução das ações
de saúde e, em especial, do exercício da Enfermagem no contexto dos
movimentos Renascentistas e da Reforma Protestante. Corresponde ao período
que vai do final do século XIII ao início do século XVI. A retomada da
ciência, o progresso social e intelectual da Renancença e a evolução
das universidades não constituíram fator de crescimento para a
Enfermagem. Enclausurada nos hospitais religiosos, permaneceu empírica e
desarticulada durante muito tempo, vindo desagregar-se ainda mais a partir
dos movimentos de Reforma Religiosa e das conturbações da Santa Inquisição.
O hospital, já negligenciado, passa a ser um insalubre depósito de
doentes, onde homens, mulheres e crianças utilizam as mesmas dependências,
amontoados em leitos coletivos.
Sob
exploração deliberada, considerada um serviço doméstico, pela queda
dos padrões morais que a sustentava, a prática de enfermagem tornou-se
indigna e sem atrativos para as mulheres de casta social elevada. Esta
fase tempestuosa, que significou uma grave crise para a Enfermagem,
permaneceu por muito tempo e apenas no limiar da revolução capitalista
é que alguns movimentos reformadores, que partiram, principalmente, de
iniciativas religiosas e sociais, tentam melhorar as condições do
pessoal a serviço dos hospitais.
As
práticas de saúde no mundo moderno analisam as ações de saúde e , em
especial, as de Enfermagem, sob a ótica do sistema político-econômico
da sociedade capitalista. Ressaltam o surgimento da Enfermagem como
atividade profissional institucionalizada. Esta análise inicia-se com a
Revolução Industrial no século XVI e culmina com o surgimento da
Enfermagem moderna na Inglaterra, no século XIX.
Período Florence
Nightingale
Nascida
a 12 de maio de 1820, em Florença, Itália, era filha de ingleses. Possuía
inteligência incomum, tenacidade de propósitos, determinação e
perseverança - o que lhe permitia dialogar com políticos e oficiais do
Exército, fazendo prevalecer suas idéias. Dominava com facilidade o inglês,
o francês, o alemão, o italiano, além do grego e latim.
No
desejo de realizar-se como enfermeira, passa o inverno de 1844 em Roma,
estudando as atividades das Irmandades Católicas. Em 1849 faz uma viagem
ao Egito e decide-se a servir a Deus, trabalhando em Kaiserswert,
Alemanha, entre as diaconisas.
Decidida
a seguir sua vocação, procura completar seus conhecimentos que julga
ainda insuficientes. Visita o Hospital de Dublin dirigido pela Irmãs de
Misericórdia, Ordem Católica de Enfermeiras, fundada 20 anos antes.
Conhece as Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, na Maison de la
Providence em Paris.
Aos
poucos vai se preparando para a sua grande missão. Em 1854, a Inglaterra,
a França e a Turquia declaram guerra à Rússia: é a Guerra da Criméia.
Os soldados acham-se no maior abandono. A mortalidade entre os
hospitalizados é de 40%.
Florence
partiu para Scutari com 38 voluntárias entre religiosas e leigas vindas
de diferentes hospitais. Algumas enfermeiras foram despedidas por
incapacidade de adaptação e principalmente por indisciplina. A
mortalidade decresce de 40% para 2%. Os soldados fazem dela o seu anjo da
guarda e ela será imortalizada como a "Dama da Lâmpada"
porque, de lanterna na mão, percorre as enfermarias, atendendo os
doentes. Durante a guerra contrai tifo e ao retornar da Criméia, em 1856,
leva uma vida de inválida.
Dedica-se
porém, com ardor, a trabalhos intelectuais. Pelos trabalhos na Criméia,
recebe um prêmio do Governo Inglês e, graças a este prêmio, consegue
iniciar o que para ela é a única maneira de mudar os destinos da
Enfermagem - uma Escola de Enfermagem em 1959.
Após
a guerra, Florence fundou uma escola de Enfermagem no Hospital Saint
Thomas, que passou a servir de modelo para as demais escolas que foram
fundadas posteriormente. A disciplina rigorosa, do tipo militar, era uma
das características da escola nightingaleana, bem como a exigência de
qualidades morais das candidatas. O curso, de um ano de duração,
consistia em aulas diárias ministradas por médicos.
Nas
primeiras escolas de Enfermagem, o médico foi de fato a única pessoa
qualificada para ensinar. A ele cabia então decidir quais das suas funções
poderiam colocar nas mãos das enfermeiras. Florence morre em 13 de agosto
de 1910, deixando florescente o ensino de Enfermagem. Assim, a Enfermagem
surge não mais como uma atividade empírica, desvinculada do saber
especializado, mas como uma ocupação assalariada que vem atender a
necessidade de mão-de-obra nos hospitais, constituindo-se como uma prática
social institucionalizada e específica.
História
da Enfermagem no Brasil
A
organização da Enfermagem na Sociedade Brasileira começa no período
colonial e vai até o final do século XIX. A profissão surge como uma
simples prestação de cuidados aos doentes, realizada por um prupo
formado, na sua maioria, por escravos, que nesta época trabalhavam nos
domicílios. Desde o princípio da colonização foi incluída a abertura
das Casas de Misericórdia, que tiveram origem em Portugal.
A
primeira Casa de Misericórdia foi fundada na Vila de Santos, em 1543. Em
seguida, ainda no século XVI, surgiram as do Rio de Janeiro, Vitória,
Olinda e Ilhéus. Mais tarde Porto Alegre e Curitiba, esta inaugurada em
1880, com a presença de D. Pedro II e Dona Tereza Cristina.
No
que diz respeito à saúde do povo brasileiro, merece destaque o trabalho
do Padre José de Anchieta. Ele não se limitou ao ensino de ciências e
catequeses. Foi além. Atendia aos necessitados, exercendo atividades de médico
e enfermeiro. Em seus escritos encontramos estudos de valor sobre o
Brasil, seus primitivos habitantes, clima e as doenças mais comuns.
A
terapêutica empregada era à base de ervas medicinais minuncioasamente
descritas. Supõe-se que os Jesuítas faziam a supervisão do serviço que
era prestado por pessoas treinadas por eles. Não há registro a respeito.
Outra
figura de destaque é Frei Fabiano Cristo, que durante 40 anos exerceu
atividades de enfermeiro no Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro
(Séc. XVIII).
Os
escravos tiveram papel relevante, pois auxiliavam os religiosos no cuidado
aos doentes. Em 1738, Romão de Matos Duarte consegue fundar no Rio de
Janeiro a Casa dos Expostos. Somente em 1822, o Brasil tomou as primeiras
medidas de proteção à maternidade que se conhecem na legislação
mundial, graças a atuação de José Bonifácio Andrada e Silva. A
primeira sala de partos funcionava na Casa dos Expostos em 1822. Em 1832
organizou-se o ensino médico e foi criada a Faculdade de Medicina do Rio
de Janeiro. A escola de parteiras da Faculdade de Medicina diplomou no ano
seguinte a célebre Madame Durocher, a primeira parteira formada no
Brasil.
No
começo do século XX, grande número de teses médicas foram apresentadas
sobre Higiene Infantil e Escolar, demonstrando os resultados obtidos e
abrindo horizontes e novas realizações. Esse progresso da medicina,
entretanto, não teve influência imediata sobre a Enfermagem.
Assim
sendo, na enfermagem brasileira do tempo do Império, raros nomes de
destacaram e, entre eles, merece especial menção o de Anna Nery.