LÚPUS
O Lúpus é o resultado de um
distúrbio da regulação imune que determina uma produção exagerada de
autoanticorpos.
FISIOPATOLOGIA
O Lúpus é um distúrbio imunorregulador
que, é produzido por alguma combinação de fatores genéticos, fatores hormonais
e fatores ambientais.
MANIFESTAÇÕES CLINICAS
Ø Comprometimento
do sistema musculoesquelético com artralgias e artrite;
Ø Edema
articular;
Ø Hipersensibilidade;
Ø Dor;
Ø Fadiga.
TRATAMENTO CLINICO
A doença aguda exige prescrições
direcionadas para controlar a atividade aumentada da doença ou as exacerbações
que podem acometer qualquer sistema orgânico. O tratamento da condição mais
crônica envolve um monitoramento periódico e o reconhecimento das alterações
clinicas significativas que exigem ajustes na terapia. As metas do tratamento
consistem em evitar a perda progressiva da função orgânica, reduzir a
probabilidade da doença aguda, reduzir as incapacidades relacionadas com a
doença e evitar complicações decorrentes da terapia. A terapia farmacológica
para o Lúpus baseia-se no uso de corticosteroides e agentes imunossupressores.
CUIDADOS DE ENFERMAGEM
Prescrição: realizar um exame clínico
e uma avaliação laboratorial periódicos.
Justificativa: uma avaliação
minuciosa ajuda a detectar os sintomas precoces dos efeitos colaterais dos
medicamentos.
Resultados esperados: realiza os
procedimentos de monitoramento e apresenta efeitos colaterais mínimos.
Prescrição: instruir na
autoadministração correta, efeitos colaterais e importância do monitoramento.
Justificativa: o paciente precisa
de informação acurada sobre os medicamentos e seus efeitos colaterais potenciais
para evitá-los ou tratá-los.
Resultados esperados: toma a
medicação conforme prescrito, e cita os efeitos colaterais potenciais.
Prescrição: aconselhar sobre os
métodos para reduzir os efeitos colaterais e tratar os sintomas.
Justificativa: a identificação
apropriada e a intervenção precoce podem reduzir as complicações.
Resultados esperados: identifica
as estratégias para reduzir ou tratar os efeitos colaterais.
Prescrição: administrar os
medicamentos em doses modificadas, conforme prescrição, se ocorrerem
complicações.
Justificativa: as modificações
podem ajudar a reduzir os efeitos colaterais ou outras complicações.
Resultados esperados: relata que
os efeitos colaterais ou as complicações diminuíram.
Os diagnósticos de enfermagem
mais comuns incluem fadiga, integridade da pele prejudicada, distúrbio da
imagem corporal e déficit de conhecimento sobre as decisões de autotratamento. Como
a exposição ao sol e a luz ultravioleta pode aumentar a atividade da doença ou
provocar uma exacerbação, os pacientes são orientados a evitar a exposição ou a
proteger-se com filtro solar e roupas. A enfermeira instrui o paciente sobre a
importância de continuar os medicamentos prescritos e aborda as alterações e os
efeitos colaterais potenciais que tendem a ocorrer com o seu uso. O paciente é
lembrado da importância do monitoramento, devido ao risco aumentado de
comprometimento sistêmico, incluindo efeitos renais e cardiovasculares.
Brunner & Suddarth, tratado
de enfermagem médico-cirurgica, 12º edição, p. 1560.
ENTREVISTA DE DR. DRAUZIO VARELLA
AO DR. SAMUEL KOPERSZTYCH: MÉDICO REUMATOLOGISTA E TRABALHA NO HOSPITAL DAS
CLÍNICAS DA USP E NO HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS DE SÃO PAULO SOBRE LÚPUS.
Lúpus é uma doença autoimune
rara, mais frequente nas mulheres do que nos homens, provocada por um
desequilíbrio do sistema imunológico, exatamente aquele que deveria defender o
organismo das agressões externas causadas por vírus, bactérias ou outros
agentes patológicos.
O fato é que, no lúpus, a defesa
imunológica se vira contra os tecidos do próprio organismo como pele,
articulações, fígado, coração, pulmão, rins e cérebro. Essas múltiplas formas
de manifestação clínica, às vezes, podem confundir e retardar o diagnóstico.
Lúpus exige tratamento cuidadoso
por médicos especialistas. Pessoas tratadas adequadamente têm condições de
levar vida normal. As que não se tratam, acabam tendo complicações sérias, às
vezes, incompatíveis com a vida.
DOENÇA AUTOIMUNE
Drauzio – O lúpus eritematoso
sistêmico é uma doença de autoagressão, uma doença autoimune. QUAIS AS
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA DOENÇA AUTOIMUNE?
Samuel Kopersztych – A doença
autoimune é fundamentalmente caracterizada pela formação de autoanticorpos que
agem contra os próprios tecidos do organismo. Por isso, o nome autoagressão, às
vezes, é mais feliz. O paciente, geralmente do sexo feminino, fabrica
substâncias nocivas para seu organismo e o anticorpo, que é um mecanismo de
defesa, passa a ser um mecanismo de autoagressão. Portanto, o que caracteriza a
doença autoimune é a formação de anticorpos contra seus próprios constituintes.
Drauzio – TEORICAMENTE, ESSES
ANTICORPOS PODEM AGREDIR QUALQUER TIPO DE TECIDO E PROVOCAR AS MAIS VARIADAS
DOENÇAS?
Samuel Kopersztych – Eles podem
agredir qualquer tipo de território. De modo geral, a maior agressão ocorre no
núcleo da célula, graças ao aparecimento de vários autoanticorpos contra
substâncias presentes em seu interior. Entretanto, o mais importante não é o
anticorpo isoladamente. Do ponto de vista anatomopatológico, o que define a
autoimunidade nos tecidos é a formação dos chamados complexos imunes.
COMPLEXOS IMUNES
Drauzio – O QUE SE ENTENDE POR
COMPLEXO IMUNE?
Samuel Kopersztych – A paciente
que tenha a etnia lúpica, ou seja, formação genética constitucional que a
predispõe a desenvolver lúpus, já possui autoanticorpos em grande quantidade.
Quando uma substância vinda do exterior une-se a eles, forma-se o complexo
antígeno-anticorpo. Isso ativa um sistema complexo de proteínas chamado de
complemento e leva à formação dos complexos imunes, cuja concentração dita a
gravidade e o prognóstico da doença, porque eles se depositam no cérebro e nos
rins principalmente.
O complexo imune depositado no
rim inflama esse órgão, produzindo a nefrite lúpica, importante para determinar
se a doente vai viver muitos anos ou ter a sobrevida encurtada.
Drauzio – QUAL É A SUBSTÂNCIA
EXTERIOR QUE MAIS AGRIDE ESSAS PACIENTES?
Samuel Kopersztych – A radiação
solar, em especial os raios ultravioleta prevalentes das dez às quinze horas, é
a substância que mais agride as pessoas que nasceram geneticamente
predispostas. Em estudos conduzidos no Hospital das Clínicas de São Paulo, foi
possível detectar inúmeros casos de pacientes que tinham o primeiro surto logo
após ter ido à praia e se exposto horas seguidas à radiação solar. Em geral,
eram pacientes do sexo feminino, já que a incidência de lúpus atinge nove
mulheres para cada homem. Nos Estados Unidos, há maior prevalência entre as
mulheres negras; no Brasil, verifica-se equivalência de casos em brancas e
negras.
CORRELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE
IMUNIDADE E ENDÓCRINO
Drauzio – Você disse que 90% dos
casos de lúpus ocorrem em mulheres. OS HORMÔNIOS SEXUAIS DESEMPENHAM ALGUM
PAPEL NESSA DOENÇA?
Samuel Kopersztych – É
fundamental estabelecer uma correlação entre o sistema de imunidade, de defesa
do organismo, com o sistema endócrino. O estrógeno (hormônio feminino) é
autoformador de anticorpos; a testosterona (hormônio masculino) é baixo
produtor. O estrógeno é sinérgico à produção de autoanticorpos e a
testosterona, supressora. Na mulher lúpica, ocorre excesso de sinergismo, ou
seja, excesso na produção de anticorpos, que se traduz pela taxa elevada da
proteína gamaglobulina nos exames de laboratório.
Drauzio – SE SUPRIMIR A PRODUÇÃO
DE ESTRÓGENO, A MULHER MELHORA DA DOENÇA?
Samuel Kopersztych – Infelizmente
o que acontece com os animais de experimentação, cujos sintomas melhoram com a
administração de hormônios masculinos, não se repete nas mulheres. Mulheres
lúpicas que tomam hormônio masculino masculinizam-se nesse período, sem
manifestar nenhum efeito terapêutico protetor importante.
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO
Drauzio – QUE INDÍCIOS PODEM
FAZER UMA PESSOA DESCONFIAR DE QUE ESTÁ COM LÚPUS?
Samuel Kopersztych – Havia grande
confusão diagnóstica em relação ao lúpus até a Sociedade Americana de
Reumatologia enunciar onze critérios de diagnóstico, em 1971. A mulher que
preencher quatro deles seguramente tem a doença. Os dois primeiros referem-se à
mucosa bucal. Entre outras lesões orais importantes, aparecem úlceras na boca
que, na fase inicial, exigem diagnóstico diferencial com pênfigo, uma doença
frequente em países tropicais. Pode ocorrer também mucosite, uma lesão
inflamatória causada por fatores como a estomatite aftosa de repetição, por
exemplo.
O terceiro critério envolve a
chamada buttefly rash, ou asa de borboleta, que muitos admitem como o critério
mais importante, mas não é. Trata-se de uma lesão que surge nas regiões
laterais do nariz e prolonga-se horizontalmente pela região malar no formato da
asa de uma borboleta. De cor avermelhada, é um eritema que geralmente apresenta
um aspecto clínico descamativo, isto é, se a lesão for raspada, descama
profusamente.
O quarto critério é a
fotossensibilidade. Por isso, o médico deve sempre investigar se a paciente já
apresentou problemas quando se expôs à luz do sol e provavelmente ficará
sabendo que mínimas exposições provocaram queimaduras muito intensas na pele,
especialmente na pele do rosto, do dorso e de outras partes do corpo mais
expostas ao sol nas praias e piscinas.
O quinto critério é a dor
articular, ou seja, a dor nas juntas, geralmente de caráter não inflamatório. É
uma dor articular assimétrica e itinerante, que se manifesta preferentemente
nos membros superiores e inferiores de um só lado do corpo e migra de uma
articulação para outra. Geralmente, é uma dor sem calor nem rubor (vermelhidão)
nem edema (inchaço), os três sinais da inflamação. Há casos, porém, em que
esses três sintomas se fazem presentes, assim como podem ocorrer artrite e
excepcionalmente inflamação no primeiro surto de 90% das pacientes.
Drauzio – QUAIS AS ARTICULAÇÕES
MAIS ATINGIDAS?
Samuel Kopersztych –
Preferentemente, as articulações dos membros superiores. A doença acomete
punho, cotovelo, ombro e dedos das mãos, como se fosse um quadro de artrite
reumatoide. Portanto, a artralgia (dor nas articulações) é um sintoma do lúpus
que leva essas pacientes a procurar o reumatologista. Se não apresentarem dor
articular, o diagnóstico clínico fica em suspenso.
Drauzio – SÃO DORES FORTES QUE
OBEDECEM A UM RITMO DIÁRIO?
Samuel Kopersztych – Não há
rigidez matutina como na artrite reumatoide. É uma dor migratória não muito
intensa. Isso, muitas vezes, retarda o diagnóstico, porque a paciente entra em
remissão e não procura o médico.
Drauzio – E O SEXTO CRITÉRIO,
QUAL É?
Samuel Kopersztych – O sexto
critério, e um dos mais importantes, é a lesão renal. Paciente com lesão renal
acompanhada de hipertensão no primeiro surto tem prognóstico mais reservado. A
hipertensão arterial denota que surgiu um processo inflamatório nas membranas
das estruturas envolvidas no sistema de filtração do sangue que atravessa os
rins e a paciente é acometida por glomerulonefrite.
Drauzio – ISSO QUER DIZER QUE O
RIM COMEÇA A FILTRAR MAL E DEIXA PASSAR PELO PORO RENAL SUBSTÂNCIAS QUE DEVERIA
RETER?
Samuel Kopersztych – Se esse
distúrbio não for tratado convenientemente, a paciente evolui para
insuficiência renal rapidamente progressiva. Na verdade, é o rim que dita o
prognóstico em 90% dos casos, que será pior ainda se for acompanhado do sétimo
critério: a lesão cerebral. Seu primeiro sinal é uma convulsão, um ataque epilético
comum que pode ser confundido como característico de doença exclusivamente
convulsiva e relegar o diagnóstico e tratamento do lúpus para segundo plano.
Drauzio – QUAL É A LESÃO CEREBRAL
MAIS FREQUENTE?
Samuel Kopersztych – A lesão
cerebral mais frequente revelada pelo exame anatomopatológico é a
tromboembolia, ou seja, a deposição de coágulos no cérebro sob a forma de
trombos locais ou de um êmbolo originário de outra região do corpo que entope o
vaso cerebral. Como consequência, o tecido que depende dessa irrigação entra em
anóxia e morre por falta de oxigênio. Além disso, quadros neurológicos graves,
como hemiplegia (paralisia de um lado do corpo), plegia (paralisia parcial de
uma parte do corpo) e quadriplegia (paralisia dos membros superiores e
inferiores) parece estarem ocorrendo com maior frequência nos dias de hoje em
virtude do aumento da sobrevida das pacientes.
O comprometimento cerebral, em
geral, não acontece no início da doença. No entanto, se estiver ligado à lesão
renal, as dificuldades terapêuticas se agravam bastante.
INCIDÊNCIA DE PENIAS
Drauzio – E O OITAVO CRITÉRIO?
Samuel Kopersztych – No
território do sangue, o lúpus estabelece as chamadas penias. Em 20% dos casos,
a anemia hemolítica coincide com a ruptura dos vasos sanguíneos e a fragilidade
dos glóbulos vermelhos, levando à anemia hemolítica autoimune, uma manifestação
da síndrome pré-lúpica. A paciente pode ir ao consultório do hematologista com
esse problema e logo em seguida ou alguns anos depois manifestar o quadro clínico
completo do lúpus eritematoso.
Outra manifestação de penia mais
incidente é a leucopenia, ou seja, a diminuição de glóbulos brancos, dos
leucócitos. Em 40% dos casos, a leucopenia é traduzida pela produção de
anticorpos principalmente dirigidos contra os neutrófilos, um tipo específico
de glóbulos brancos que hoje faz parte do diagnóstico laboratorial do lúpus.
Outra possibilidade é a
ocorrência da plaquetopenia, ou púrpura trombocitopênica idiopática, uma lesão
provocada por anticorpos contra as plaquetas que não tem etiologia definida e
que pode preceder, em alguns anos, a instalação do lúpus.
Essas penias são importantes e,
muitas vezes, levam a paciente lúpica à esplenectomia, ou seja, à retirada do
baço, porque os clínicos já sabiam de longa data que sem ele melhora a produção
de glóbulos vermelhos. O baço funcionaria como uma esponja que reteria os
anticorpos contra substâncias do sangue, e isso acentuaria a diminuição dos
glóbulos vermelhos, brancos e das plaquetas. Retirando-se o baço, esses
elementos seriam redistribuídos na circulação.
Acontece que pacientes lúpicas
infectam-se com muita facilidade. A experiência nas enfermarias mostra que a
retirada do baço em pacientes que sofreram acidentes de automóvel ou em
crianças com traumatismos abdominais coincide com grande número de infecções,
principalmente por salmonelas, bactéria que antigamente causava o tifo. Por
isso, a retirada do baço numa paciente lúpica deve ser bem analisada.
GRAVIDEZ NAS PACIENTES LÚPICAS E
OUTROS CRITÉRIOS
Drauzio – E O NONO CRITÉRIO?
Samuel Kopersztych – É o critério
imunológico. Pacientes lúpicas apresentam uma reação falsamente positiva para
sífilis e manifestam a síndrome anticoagulante lúpica que se caracteriza por
trombose, embolias e abortos de repetição.
Drauzio – A GRAVIDEZ É
CONTRAINDICADA PARA AS PACIENTES LÚPICAS?
SamuelKopersztych – Há um
conceito difundido inclusive entre alguns médicos de que pacientes lúpicas não
devem, não podem e não engravidam em virtude de um problema imunológico. O
argumento é que algumas dessas mulheres produzem anticorpos contra um
constituinte especial chamado fosfolípedes, ou seja, substâncias com o radical
fósforo do tipo gorduroso situadas na circulação. Esses anticorpos são
responsáveis pela incidência de abortos recorrentes, aliás, outro sinal de
pré-lúpus.
Drauzio – ISSO QUER DIZER QUE
ELAS ENGRAVIDAM E ABORTAM REPETIDAMENTE?
Samuel Kopersztych – Além de
abortos de repetição, essas mulheres formam coágulos em várias partes do corpo.
Formam trombos no cérebro e formam êmbolos. Paciente lúpica que não tenha esse
componente talvez possa ter uma gravidez normal. No entanto, nas portadoras de
lesão renal, aumenta muito a possibilidade de abortos ou de dar origem a um
feto com pouca chance de sobrevivência. Na verdade, algumas não têm dificuldade
para engravidar, mas a gravidez pode ser tempestuosa e difícil e exige segmento
pré-natal feito por especialista.
Drauzio – COMO VOCÊ ORIENTA UMA
MULHER JOVEM COM LÚPUS QUE QUER TER FILHOS?
SamuelKopersztych– Acho que ela
precisa ser informada do risco que correrá. Em 80% dos casos, pode haver uma
piora da doença, exatamente o contrário do que ocorre com a artrite, que
melhora durante a gravidez.
Drauzio – VOCÊ PODERIA CITAR O
DÉCIMO E O DÉCIMO PRIMEIRO CRITÉRIO?
Samuel Kopersztych – A incidência
de pericardites (inflamação do pericárdio, membrana que envolve externamente o
coração) e de pleurites (inflamação da pleura, membrana que recobre o pulmão)
também podem ocorrer em pacientes com lúpus. Em 70% dos casos, a pericardite é
subclínica e diagnosticada apenas nas autópsias. Esse é o décimo critério; o
décimo- primeiro é o fator antinúcleo.
EXAMES LABORATORIAIS
Drauzio – ALÉM DO QUADRO CLÍNICO,
O DIAGNÓSTICO DE LÚPUS PODE CONTAR COM UM QUADRO LABORATORIAL BASTANTE
CARACTERÍSTICO, NÃO É?
Samuel Kopersztych – O teste
básico de laboratório é a pesquisa do fator antilúpus. O patologista vai
avaliar o caso através de métodos de união antígeno-anticorpo com corante
fluorescente. No exame de sangue comum, por meio dessa técnica, ele observa como
cora o núcleo das células das pacientes lúpicas. Às vezes, cora difusamente; às
vezes, em pontilhados pequenos e, às vezes, numa reação em anel. A resposta
difusa indica lúpus benigno com lesão de pele e de articulações, mas sem
comprometimento dos rins e do cérebro. Já, o achado em anel correlaciona-se com
lesão renal e forte complexo autoimune circulante. Portanto, esse simples exame
de sangue não invasivo dá ao clínico uma ideia do diagnóstico e do prognóstico.
Se o fator antilúpus aparecer em alta concentração numa jovem, com quase toda a
certeza, num futuro próximo, ela irá encaixar-se em todos os critérios de
diagnóstico do lúpus.
EVOLUÇÃO DA DOENÇA
Drauzio – Você citou formas de
evolução mais lenta e mais acelerada do lúpus. O QUE DETERMINA TAL DIFERENÇA?
Samuel Kopersztych – Quanto mais
jovem for a mulher, pior será o diagnóstico. Lúpus dificilmente aparece em
meninas que ainda não menstruaram. Em geral, o acometimento coincide com a
época da menstruação e atinge mulheres na faixa entre 15 e 30 anos. Se não há
lesão renal e cerebral no primeiro surto, trata-se de uma forma benigna de
lúpus caracterizada por lesões de pele, asa de borboleta, dor nas juntas,
sintomas facilmente controláveis com medicação. É também provável que a
paciente não apresente os problemas correlacionados com o passar da idade e
morra de outra causa que não o lúpus.
Se no primeiro surto, porém, ela
manifestar lesão renal ou cerebral ou, o pior de tudo, as duas ao mesmo tempo,
é sinal de mau prognóstico. Além disso, pesam fatores puramente imunológicos,
por exemplo, a queda de algumas proteínas do sangue como complemento e o
aparecimento de infecções. A evolução das pacientes no Hospital das Clínicas
indica que o aparecimento de infecções é fator decisivo na evolução e prognóstico
da doença.
Nos EUA, estatísticas mostram que
a mulher negra tem evolução pior do que a branca. O que vimos no HC,
entretanto, é que aqui há uma equivalência da doença entre mulheres brancas e
negras.
TRATAMENTO
Drauzio – NO PASSADO, TODOS OS
CASOS DE LÚPUS ERAM TRATADOS COM CORTISONA E SEUS DERIVADOS. HOJE, EXISTEM
RECURSOS MAIS EFICAZES?
Samuel Kopersztych – Temos
recursos melhores, inclusive em relação à própria cortisona. Os corticoides
modernos não são dotados de efeitos colaterais como aumento de pressão e grande
retenção de sal e água. Outros podem ser injetados por via endovenosa. É o
chamado pulso terapêutico que consiste em hospitalizar a paciente e infundir de
uma só vez, numa única aplicação, grande quantidade de corticoide.
Drauzio – OS PACIENTES SUPORTAM
BEM ESSA TÉCNICA TERAPÊUTICA?
Samuel Kopersztych – Suportam bem
e a tendência à infecção é menor. O grande impulso, porém, foi conseguido com o
advento de uma droga chamada ciclofosfomida, imunossupressor usado nos
primórdios dos transplantes renais, e que pode ser aplicada nas pacientes com
lúpus sob a forma de pulso terapêutico. Outras drogas usadas inicialmente nesse
tipo de transplante foram aproveitadas pelos reumatologistas para controlar a
formação dos complexos imunes.
Gostaria, ainda, de mencionar a
plasmaférese, método terapêutico que pode ser aplicado quando a lesão renal
está muito ativa. A doente é internada para retirar grande quantidade de
plasma. Com isso, o hematologista elimina os complexos imunes circulantes em
benefício da evolução benigna das lesões renais e cerebrais.
Drauzio – CONTANDO COM OS
RECURSOS QUE TEMOS ATUALMENTE, SE FOR BEM CUIDADA, UMA MULHER COM LÚPUS TÊM
CONDIÇÕES DE LEVAR VIDA NORMAL?
Samuel Kopersztych – Com segmento
ambulatorial bem feito, tem condições de levar vida normal. Lúpus é uma doença
grave, especialmente se houver lesão renal e lesão cerebral, mas hoje podemos
contar com um contingente terapêutico importante e com antibióticos mais
modernos que protegem contra infecções e garantem sobrevida maior para essas
pacientes.
ORIENTAÇÕES ÀS PACIENTES
Drauzio – SUMARIAMENTE, QUE
CUIDADOS DEVEM TOMAR AS MULHERES COM LÚPUS?
Samuel Kopersztych– Ela deve
proteger-se da radiação solar e usar fotoprotetor mesmo na cidade, porque não é
só na praia e na piscina que o sol é intenso.
Deve procurar engravidar com
parcimônia e sob grande supervisão. Deve tomar cuidado com a administração de
pílulas anticoncepcionais, pois o aumento nos níveis de estrógeno pode
desencadear novo surto da doença.
É importante, também, tomar
cuidado para não contrair infecções. Evitar grandes conglomerados ou
agrupamentos de pessoas e o contato com portadores de doenças infecciosas, que
possam ser transmitidas, é uma precaução válida e indispensável.
Além disso, é preciso estar
sempre atento ao psiquismo da paciente lúpica, que se altera muito com a
doença. Às vezes, a primeira manifestação é um surto psicótico ou de ansiedade.
Por isso, o equilíbrio emocional é meta importante na vida dessas mulheres.
Disponível em: http://drauziovarella.com.br/clinica-geral/lupus/
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