Difteria
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ASPECTOS
CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS
Descrição - Doença transmissível aguda, toxiinfecciosa, causada por bacilo
toxigenico, que, frequentemente, se aloja nas amígdalas, faringe, laringe,
nariz e, ocasionalmente, em outras mucosas e na pele. A manifestação clinica típica
e a
presença de placas pseudomembra nasais branco-acinzentadas aderentes, que se instalam nas amígdalas e invadem estruturas
vizinhas (forma faringo-amigdaliana ou faringotonsilar – angina diftérica).
Essas placas podem se localizar na faringe, laringe (laringite diftérica) e
fossas nasais (rinite diftérica), e, menos frequentemente, na conjuntiva, pele,
conduto auditivo, vulva, pênis (pos-circuncisão) e cordão umbilical. A doença
se manifesta por comprometimento do estado geral do paciente, com prostração e
palidez.
A
dor de garganta é discreta, independentemente da localização ou quantidade de
placas existentes, e a febre normalmente não e muito elevada (37,5 - 38,5°C).
Nos casos mais graves, ha intenso aumento do pescoço (pescoço taurino), por
comprometimento dos gânglios linfáticos dessa área e edema periganglionar nas
cadeias cervicais e submandibulares.
Dependendo
do tamanho e localização da placa pseudomembranosa, pode ocorrer asfixia mecânica
aguda no paciente, o que muitas vezes exige imediata traqueostomia para evitar
a morte. O quadro clinico produzido pelo bacilo não-toxigênico também determina a formação de placas características, embora
não se observe sinais de toxemia ou ocorrência de complicações. Entretanto, as infecções
causadas pelos bacilos nao-toxigênicos tem importância epidemiológica por
disseminar o Corynebacterium
diphtheriae. Os casos graves e
intensamente tóxicos são denominados de Difteria Hipertoxica (maligna) e
apresentam, desde o inicio, importante comprometimento do estado geral, placas com
aspecto necrótico e pescoço taurino.
Sinonímia - Crupe.
Agente etiológico - Corynebacterium
diphtheriae, bacilo gram-positivo,
produtor da toxina diftérica, quando infectado por um fago.
Reservatório - O homem, doente ou
portador assintomático.
Modo de transmissão - Contato direto da
pessoa doente ou do portador com pessoa suscetível através de gotículas de secreção
eliminadas por tosse, espirro ou ao falar. A transmissão por objetos recém contaminados
com secreções do doente ou de lesões em outras localizações é pouco frequente.
Período de incubação - De 1 a 6 dias, podendo ser mais longo.
Período de transmissibilidade - Em media, ate 2 semanas após o inicio dos sintomas.
A antibioticoterapia adequada erradica o bacilo diftérico da orofaringe, de 24
a 48 horas após a sua introdução, na maioria dos casos. O portador crônico não
tratado pode transmitir a infecção por 6 meses ou mais e é extremamente
importante na disseminação da doença.
Suscetibilidade e imunidade - A suscetibilidade é geral. A imunidade pode ser
naturalmente adquirida pela passagem de anticorpos maternos via
transplacentaria, que protegem o bebe nos primeiros meses de vida, ou através
de infecções inaparentes atípicas, que conferem imunidade em diferentes graus,
dependendo da maior ou menor exposição dos indivíduos. A imunidade também pode
ser adquirida ativamente, através da vacinação com toxóide diftérico. A proteção
conferida pelo soro antidiftérico (SAD) é temporária e de curta duração (em media,
2 semanas). A doença normalmente não confere imunidade permanente, devendo o
doente continuar seu esquema de vacinação após a alta hospitalar.
Complicações - Miocardite, neurites periféricas, nefropatia tóxica,
insuficiência renal aguda.
Diagnóstico - Isolamento e identificação do bacilo, mesmo sem as provas
de toxigenicidade, associados ao quadro clinico e epidemiológico.
Tratamento:
Especifico - Soro antidiftérico (SAD), medida terapêutica de
grande valor, que deve ser feita em unidade hospitalar e cuja finalidade é
inativar a toxina circulante o mais rapidamente possível e possibilitar a circulação
de anticorpos para neutralizar a toxina produzida pelo bacilo.
O
soro antidiftérico não tem ação sobre a toxina já impregnada no tecido. Por
isso, sua administração deve ser feita o mais precocemente possível, frente a
uma suspeita clinica bem fundamentada.
Como
o soro antidiftérico tem origem heterologa (soro heterologo de cavalo), sua administração
pode causar reações alérgicas. Desse modo, faz-se necessária a realização de
provas de sensibilidade antes do seu emprego. Caso a prova seja positiva,
devera ser feita a dessensibilização.
As
doses do SAD não dependem do peso e da idade do paciente e sim da gravidade e
do tempo da doença. O SAD deve ser feito, preferencialmente, por via endovenosa
(EV), diluído em 100ml de soro fisiológico, em dose única.
Esquema de administração:
·
Formas leves
(nasal, cutânea, amigdaliana) - 40.000UI, EV;
·
Formas
laringoamigdalianas ou mistas - 60.000 - 80.000UI, EV;
·
Formas graves ou
tardias - 80.000 - 120.000UI, EV.
Tratamento de suporte - Repouso, manutenção do equilíbrio hidreletrolítico,
nebulização, aspiração frequente de secreções. A Carnitina (ate 5 dias do
inicio da doença) tem sido indicada para prevenir formas graves de miocardite.
Insuficiência respiratória – de acordo com o quadro, ha indicação
de traqueostomia. Em algumas situações (comprometimento respiratório alto,
casos leves e moderados de laringite), pode-se usar dexametasona como medida
antiedematosa. Miocardite –repouso absoluto no leito, restrição
de sódio, diuréticos, cardiotônicos. Polineurite – sintomáticos.
Insuficiência renal aguda – tratamento conservador, diálise
peritoneal.
Características epidemiológicas - A ocorrência da doença é mais frequente em áreas
com baixas condições socioeconômicas e sanitárias, onde a aglomeração de
pessoas é maior. Comumente, essas áreas apresentam baixa cobertura vacinal e,
portanto, não é obtido impacto no controle da transmissão da doença. No Brasil,
o numero de casos vem decrescendo progressivamente, provavelmente em decorrência
do aumento da cobertura pela vacina DTP que passou de 66%, em 1990, para mais
de 98%, em 2007. Em 1990, foram notificados 640 (incidência de 0,45/100.000
habitantes) e este numero que foi progressivamente decrescendo ate atingir 56
casos em 1999 (incidência de 0,03/100.000 habitantes) e 58 casos em 2000
(coeficiente de incidência de 0,03/100.000 habitantes). Nos anos subsequentes,
o número de casos não ultrapassou 50 por ano e o coeficiente de incidência por
100.000 habitantes manteve-se em torno de 0,03. Em 2008, confirmaram-se 7 casos
da doença (incidência de 0,003/100.000 habitantes). A letalidade esperada variou
de 5% a 10%, tendo atingido o máximo de 20%, em certas situações.
No
Brasil, em 2007 não foi registrado nenhum óbito por Difteria, já em 2008 um
caso da doença evoluiu para óbito.
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
Notificação - Doença de notificação compulsória e de investigação
imediata e obrigatória.
Definição
de caso
·
Suspeito - Toda
pessoa que, independente da idade e estado vacinal, apresente quadro agudo de infecção
da orofaringe, com presença de placas aderentes ocupando as amígdalas, com ou
sem invasão de outras áreas da faringe (palato e úvula) ou outras localizações
(ocular, nasal, vaginal, pele, etc.), com comprometimento do estado geral e febre
moderada.
·
Confirmado
o
- Critério
laboratorial: todo caso suspeito com isolamento do C. diphtheriae, com ou sem
provas de toxigenicidade positiva.
o
- Critério
clínico-epidemiológico: todo caso suspeito de Difteria com resultado de cultura
negativo ou exame não realizado, mas que seja comunicante de um outro caso
confirmado laboratorial ou clinicamente; ou com resultado de cultura negativo
ou exame não realizado, mas que seja comunicante intimo de individuo no qual se
isolou C. diphtheriae (portador sadio).
o
- Critério
clínico: quando forem observadas placas comprometendo pilares ou úvula, além
das amígdalas; placas suspeitas na traqueia ou laringe; simultaneamente, placas
em amígdalas, toxemia importante, febre baixa desde o inicio do quadro e evolução,
em geral, arrastada; miocardite ou paralisia de nervos periféricos, que pode
aparecer desde o inicio dos sintomas sugestivos de Difteria ou ate semanas após.
o
- Critério anatomopatológico (necropsia): quando
a necropsia comprovar: placas comprometendo pilares ou úvula, além das amígdalas;
placas na traqueia e/ou laringe.
o
- Morte após
clínica compatível: óbito de paciente em curso de tratamento de amigdalite
aguda e no qual se constata miocardite.
MEDIDAS DE CONTROLE
A
medida mais segura e efetiva e a imunização adequada da população com toxóide diftérico.
·
Esquema vacinal
básico - Os menores de 1 ano deverão receber 3 doses da vacina combinada DTP +
Hib (contra Difteria, Tétano e Coqueluche e infecções graves causadas pelo Haemophilus
influenzae), a partir dos 2 meses, com intervalo de, pelo menos, 30 dias entre
as doses (idealmente, de 2 meses). De 6 a 12 meses após a terceira dose, a criança
devera receber o primeiro reforço com a vacina DTP (Tríplice Bacteriana), sendo
que o segundo reforço devera ser aplicado de 4 a 6 anos de idade. A vacina DTP não
deve ser aplicada em crianças com 7 anos ou mais de idade. A vacina DTPa (Tríplice
Acelular) é indicada em situações especiais e deve-se observar as recomendações
do Ministério da Saúde. As crianças com 7 anos ou mais, adultos e idosos não
vacinados ou sem comprovação de vacinação prévia devem receber 3 doses da vacina
dT (Dupla Adulto), com intervalo de pelo menos 30 dias entre as doses (o ideal
é intervalo de 2 meses). Se comprovar esquema de vacinação incompleto, aplicar
as doses necessárias para completar o esquema vacinal preconizado.
·
Vacinação de
bloqueio - Após a ocorrência de um ou mais casos de Difteria, deve-se vacinar
todos os contatos não vacinados, inadequadamente vacinados ou com estado
vacinal desconhecido. Nos comunicantes, adultos ou crianças que receberam ha
mais de 5 anos o esquema básico ou doses de reforço, deverá ser administrada uma
dose de reforço de DTP (em menores de 7 anos) ou de dT (em crianças com 7 anos
ou mais e adultos).
·
Controle de
comunicantes - Coletar material de naso e orofaringe e de lesão de pele dos
comunicantes, para cultura de C. diphtheriae. Os comunicantes cujo resultado da
cultura seja positivo deverão ser reexaminados para confirmar se são portadores
ou caso de Difteria. Todos os comunicantes suscetíveis deverão ser mantidos em observação
durante 7 dias, contados a partir do momento da exposição. O soro antidiftérico
não deve ser administrado com finalidade profilática.
·
Quimioprofilaxia
dos portadores - Tem indicação restrita e devem ser observadas as recomendações
constantes no Guia de Vigilância Epidemiológica.
·
Isolamento -
Persistir em isolamento até que duas culturas de exsudato de naso e orofaringe
sejam negativas (colhidas 24 e 48 horas após a suspensão do tratamento).
·
Desinfecção -
Concorrente e terminal.
·
Vacinação após
alta - A doença não confere imunidade e a proteção conferida pelo soro antidiftérico
(SAD) e temporária e de curta duração (em media, 2 semanas). Portanto, todos os
casos devem ser vacinados de acordo com os esquemas preconizados, após a alta hospitalar.
Fonte: doenças infecciosas e parasitárias. Guia de
bolso p. 139 a 144.
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