1.APOPTOSE
1.1 DEFINIÇÃO
Apoptose, ou morte
celular programada, é um processo essencial para a manutenção do
desenvolvimento dos seres vivos, sendo importante para eliminar células
supérfluas ou defeituosas. Durante a apoptose, a célula sofre alterações
morfológicas características desse tipo de morte celular. Tais alterações
incluem a retração da célula, perda de aderência com a matriz extracelular e
células vizinhas, condensação da cromatina, fragmentação internucleossômica do
DNA e formação dos corpos apoptóticos. Muitas são as moléculas envolvidas no
controle das vias de ativação da apoptose, dentre estas, as proteínas
antiapoptóticas e pró-apoptóticas, além das caspases. Esse fenômeno biológico,
além de desempenhar um papel importante no controle de diversos processos
vitais, está associado a inúmeras doenças, como o câncer. A compreensão dos
mecanismos apoptóticos permitiu o desenvolvimento de novas estratégias no
tratamento do câncer. Tais estratégias são embasadas na indução da morte nas
células tumorais e em uma maior resposta aos tratamentos com radiação e agentes
citotóxicos.
1.2 CAUSAS
A apoptose é uma
forma de morte celular destinada a eliminar células do hospedeiro indesejáveis
através da ativação de um série coordenada e programada internamente de eventos
executados por um conjunto exclusivo de produtos gênicos. É responsável por
numerosos ventos fisiológico, adaptativos e patológicos como por exemplo:
û Destruição programada
de células durante a embriogênese;
û Involução dependente
de hormônio no adulto, como a degradação das células endometriais na
menstruação;
û Deleção celular em
populações de células em proliferação, como nos epitélios das criptas
intestinais;
û Morte celular em
tumores;
û Morte de neutrófilos
durante uma resposta inflamatória aguda;
û Morte de células
imunes, linfócitos T e B após a depleção de citocinas;
û Atrofia patológica em
órgãos parenquimatosos após obstrução ductal, como ocorre no pâncreas, glândula
parótida e rim;
û Lesão celular em
certas doenças virais como hepatite viral;
û Morte celular
produzida por uma variedade de estímulos nocivos que são capazes de produzir
necrose, mas quando fornecidos em baixas doses. Por exemplo; calor, radiação e
hipóxia.
1.3 MORFOLOGIA
A apoptose pode ser
reconhecida por características morfológicas muito marcantes e coordenadas
(Figura 1). De um modo geral, a apoptose é um fenômeno bastante rápido: ocorre
uma retração da célula que causa perda da aderência com a matriz extracelular e
células vizinhas.
As organelas
celulares mantêm a sua morfologia, com exceção, em alguns casos, das
mitocôndrias, que podem apresentar ruptura da membrana externa. A cromatina
sofre condensação e se concentra junto à membrana nuclear, que se mantém
intacta. A seguir, a membrana celular forma prolongamentos (blebs) e o
núcleo se desintegra em fragmentos envoltos pela membrana nuclear. Os
prolongamentos da membrana celular
aumentam de número e
tamanho e rompem, originando estruturas contendo o conteúdo celular. Estas
porções celulares envoltas pela membrana celular são denominadas corpos
apoptóticos. Os corpos apoptóticos são rapidamente fagocitados por macrófagos e
removidos sem causar um processo inflamatório. Outra característica muito
marcante da morte por apoptose é a fragmentação internucleossômica do DNA, a
qual possui um padrão característico. Uma endonuclease é ativada e produz
fragmentos de DNA de tamanhos variáveis, mas sempre múltiplos de 200 pares de
base. A demonstração de que a apoptose é um mecanismo inato de defesa
antineoplásica e que vários agentes quimioterápicos agem através da indução
desse tipo de morte celular levou a uma intensa investigação dos mecanismos
moleculares da apoptose e sua aplicação no tratamento do câncer.
Figura 1. Características
morfológicas da apoptose e da necrose
1.3.1Eventos que caracterizam as células que sofrem
apoptose.
û Retração celular: a
célula exibe um tamanho menor; o citoplasma denso; e as organelas, embora
relativamente normais, estão mais compactadas.
û Condensação da
cromatina: esta é a característica mais marcante da apoptose. A cromatina
agrega-se na periferia, sobre a membrana nuclear, em massas densas bem
delimitadas, de formas e tamanhos diversos. O núcleo pode romper-se, dois ou
mais fragmentos.
û Formação de bolhas
citoplasmáticas e corpúsculos apoptóticos: a célula apoptótica primeiro mostra
bolhas superficiais extensas, sofrendo então fragmentação em um grupo de
corpúsculos apoptóticos ligados à membrana e composta de citoplasmas e
organelas estreitamente acondicionadas, com ou sem um fragmento nuclear.
û Fagocitose das
células ou corpúsculos apoptóticos: por células sadias adjacentes, sejam elas
células parenquimatosas ou macrófagos. Os corpúsculos apoptóticos são
rapidamente degradados dentro dos lisossomas, e as células adjacentes migram ou
proliferam para repor o espaço ocupado pela célula apoptótica agora eliminada.
1.4 CARACTERÍSTICAS BIOQUÍMICAS
û Clivagem de proteína:
uma característica especifica da apoptose é a hidrólise de proteínas envolvendo
a ativação de vários membros de uma família recém-descoberta de
cisteína-protease denominada caspases. A
clivagem por caspases das proteínas do citoesqueleto e da estrutura nuclear
produz as alterações estruturais nucleares e citoplasmáticas distintivas vistas
nas células apoptóticas. A atividade de caspase também desencadeia
endonucleases.
û Entrecruzamento de
proteínas: entrecruzamento extenso de proteínas por ativação de transglutaminase
converte as proteínas citoplasmáticas em cascas retraídas, ligadas de maneira
covalente, que podem romper-se em corpúsculos apoptóticos.
û Quebra do DNA: as células apoptóticas exibem quebras
típicas do DNA em fragmentos grandes de 50 a 300 quilobases. Subsequentemente a
clivagem internucleossômica do DNA em oligonucleossomas em múltiplos de 180 a
200 pares de bases por endonucleases dependentes de Ca e Mg.
û Reconhecimento
fagocítico: as células apoptóticas
expressam fosfatidilserina nas camadas externas das suas membranas plasmáticas,
tendo o fosfolipídio “virado” das camadas internas. Em alguns tipos de
apoptose, a trombospondina, uma glicoproteína aderente, também se expressa nas
superfícies dos corpúsculos apoptóticos. Essas alterações permitem o
reconhecimento precoce de células mortas por macrófagos e células adjacentes
para a fagocitose, sem a liberação de componentes celulares pró-inflamatórios.
Desse modo, a resposta apoptótica distribui as células com comprometimento
mínimo para o tecido circundante.
1.5 VIAS DE ATIVAÇÃO DA APOPTOSE
Diversos são os
fatores que podem desencadear a apoptose, entre eles: ligação de moléculas a
receptores de membrana, agentes quimioterápicos, radiação ionizante, danos no
DNA, choque térmico, deprivação de fatores de crescimento, baixa quantidade de
nutrientes e níveis aumentados de espécies reativas do oxigênio. A ativação da
apoptose pode ser iniciada de duas diferentes maneiras: pela via extrínseca
(citoplasmática) ou pela via intrínseca (mitocondrial).
û Via Extrínseca: A via
extrínseca é desencadeada pela ligação de ligantes específicos a um grupo de
receptores de membrana da superfamília dos receptores de fatores de necrose
tumoral (rTNF). Esta ligação é capaz de ativar a cascata das caspases. Todos os
membros da família rTNF possuem um subdomínio extracelular rico em cisteína, o
qual permite que eles reconheçam seus ligantes. Tal fato resulta na trimerização
e consequente ativação dos receptores de morte específicos. A
sinalização a seguir é mediada pela porção citoplasmática desses receptores que
contém uma sequencia de 65 aminoácidos chamada "domínio de morte"
sendo, por isso, chamados de "receptores de morte celular". Quando os
receptores de morte celular reconhecem um ligante específico, os seus domínios
de morte interagem com moléculas conhecidas como FADD/ MORT-1. Essas moléculas
têm a capacidade de recrutarem a caspase-8 que irá ativar a caspase-3, executando
a morte por apoptose.
û Via Intrínseca: A via
intrínseca é ativada por estresse intracelular ou extracelular como a
deprivação de fatores de crescimento, danos no DNA, hipóxia ou ativação de oncogenes.
Os sinais que são traduzidos em resposta a estes insultos convergem
principalmente para a mitocôndria3. Inúmeros estudos sobre apoptose apontam a
mitocôndria como o principal mediador desse tipo de morte. Essa organela
integra os estímulos de morte celular, induzindo a permeabilização mitocondrial
e consequente liberação de moléculas pró-apoptóticas nela presentes. Quando
sinais de morte alcançam a mitocôndria, levam ao colapso do potencial da membrana
mitocondrial interna, bem como a uma transição da permeabilidade mitocondrial
(TPM). Ao mesmo tempo, a água do espaço entre membranas passa para a matriz
mitocondrial, levando à ruptura da organela e consequente liberação de
proteínas pró-apoptóticas para o citoplasma. Além da liberação de moléculas
pela mitocôndria, a indução do colapso do potencial da membrana mitocondrial
interna e TPM levam à perda da homeostasia celular, interrompendo a síntese de
ATP e aumentando a produção de espécies reativas do oxigênio (EROS). O aumento
nos níveis de EROS leva à oxidação de lipídios, proteínas e ácidos nucléicos, aumentando
o colapso do potencial da membrana mitocondrial interna. A resposta da mitocôndria
ao dano oxidativo é uma via importante no início da apoptose. Além disso, é
sabido que as EROS induzem a ativação das caspases -9 e -3. Alguns estudos
indicam que durante a apoptose ocorre a formação de um megaporo que contém
diversas proteínas e abrange as membranas interna e externa da mitocôndria.
Através desse poro ocorre a liberação do citocromo c para o citoplasma
onde participa da ativação da apoptose. Os diferentes sinais indutores de apoptose
são detectados pela mitocôndria, fazendo com que ocorra um desacoplamento da
cadeia respiratória e consequente liberação de citocromo c e proteínas ativadoras
da apoptose para o citosol. Quando no citosol, o citocromo c forma um
complexo com a APAF- 1 e a caspase-9, o chamado apoptossomo, que promove a
clivagem da pró-caspase-9, liberando a caspase-9, ativa52 . Uma vez
ativada, a caspase-9 ativa a caspase-3 que vai ocasionar a apoptose. Mais
recentemente, foi descrita a participação, na via mitocondrial, de uma
flavoproteína conhecida por Fator Indutor de Apoptose (AIF). A AIF migra da mitocôndria
para o núcleo após um estímulo de apoptose e induz a condensação da cromatina e
fragmentação do DNA em fragmentos de 50Kb, independente da ativação das
caspases.
1.6 APOPTOSE E CÂNCER
Embora o câncer exiba
características muito heterogêneas, todos os tumores malignos adquiriram a
propriedade de crescer além dos limites impostos às células normais. A expansão
clonal de uma célula transformada depende de um descontrole da sua capacidade
proliferativa e de uma crescente incapacidade de morrer por apoptose. Portanto,
apesar da enorme variabilidade do câncer, evidências demonstram que a
resistência a apoptose é uma das características mais marcantes da maioria dos
tumores malignos. De fato, a análise do processo de tumorigênese revela que a
capacidade de resistir à morte pode ser adquirida por diferentes mecanismos e
acontecer em vários momentos do desenvolvimento tumoral. Entre estes, a
resistência à morte por apoptose em células que escaparam do controle do
crescimento e da diferenciação normais exercidos por fatores solúveis ou por
contatos célula/célula ou célula/matriz extracelular até aquela induzida por
lesões no DNA, por hipóxia ou por espécies reativas do oxigênio. A apoptose na
prática clínica é alvo para um potencial uso terapêutico da morte celular
programada ou para a compreensão dos mecanismos de resistência à radioterapia e
à quimioterapia. A elucidação de alguns dos mecanismos moleculares da apoptose
abriram perspectivas de modulação desses processos. As estratégias se baseiam
em induzir a morte nas células tumorais através do bloqueio de genes com
oligonucleotídeos antisense e drogas convencionais, ou ainda a
substituição de função desses genes com o uso de moléculas recombinantes.
Diversos estudos
clínicos e pré-clínicos com drogas que têm por alvo membros da família Bcl-2
estão em andamento. A redução na atividade do Bcl-2 e Bcl-XL é suficiente para
induzir a célula a entrar em apoptose.
2. NEOPLASIA
2.1 DEFINIÇÃO
O termo neoplasia significa literalmente
“crescimento novo”, e esse novo crescimento é um neoplasma. O termo tumor
foi originalmente aplicado ao intumescimento causado pela inflamação. As
neoplasias também podem induzir intumescimento; entretanto, com o decorrer do
tempo, o uso não-neoplásico do termo tumor foi abandonado, de modo que, na atualidade,,
o termo é sinônimo de neoplasia. A oncologia
(do grego oncos = tumor) refere-se ao estudo dos tumores ou neoplasias. A
palavra câncer é o termo comum utilizado para referir-se a todos os tumores
malignos.
O oncologista Willis
foi o que chegou mais perto de uma definição para o termo neoplasia, haja vista
que a maioria dos médicos saiba o que quer dizer e não saber definir. “uma neoplasia é uma massa anormal de tecido,
cujo crescimento excede aquele dos tecidos normais e não esta coordenado a ele,
persistindo da mesma maneira excessiva após o termino do estimulo que induz a
alteração.”
2.2 TERMINOLOGIAS
As neoplasias
costumam ser classificadas como benignas ou malignas. As neoplasias que contem
células bem diferenciadas, agrupadas em uma única massa, são consideradas
benignas. Estes tumores geralmente não causam morte, a menos que sua
localização ou tamanho interfiram nas funções vitais. Já as neoplasias malignas
são menos diferenciadas e tem a habilidade de se destacar, entrar nos sistemas
circulatórios ou linfáticos, bem como formar tumores malignos em outros locais.
As neoplasias malignas costumam causar sofrimento e morte, se não forem
tratadas ou controladas.
2.2.1 Neoplasias benignas
Os tumores benignos
são caracterizados por taxa lenta e progressiva de crescimento que pode se
manter ou regredir, modo expansivo de crescimento, presença de cápsula fibrosa
bem definida, e por não formar metástase para locais distantes. Por motivos
desconhecidos os tumores benignos parecem ter perdido a habilidade de suprimir
o programa genético para a replicação celular, mas conservam o programa para a
diferenciação celular normal. Os tumores benignos crescem por expansão e estão
envolvidos em uma capsula fibrosa, o que contrasta muito com as neoplasias
malignas que crescem infiltrando-se nos tecidos vizinhos. A cápsula é
responsável por uma linha de nítida demarcação entre o tumor benigno e os
tecidos adjacentes, um fator que facilita a remoção cirúrgica.
Figura
3. Pólipo colônico. A, Esse tumor glandular benigno ( adenoma) projeta-se na
luz do cólon e esta fixado à mucosa por um pedículo distinto. B, Aspecto
macroscópico de vários pólipos colônicos.
2.2.2 Neoplasias malignas
As neoplasias
malignas tendem a crescer rapidamente, espalhar-se muito e matar independente
de sua localização original. Devido a sua rápida taxa de crescimento, os tumores
malignos tendem a comprimir vasos sanguíneos e impedir o fluxo sanguíneo,
causando isquemia e necrose tissular; privar tecidos normais dos seus
nutrientes essenciais; e liberar enzimas e toxinas que destroem o tecido
tumoral e o tecido normal. A natureza destrutiva dos tumores malignos é
relacionada a sua falta de diferenciação celular, características celulares,
taxa de crescimento e habilidade de se espalhar e formar metástases.
Existem duas
categorias de câncer: os tumores sólidos e os cânceres hematológicos. Os
tumores sólidos inicialmente ficam confinados a um tecido ou órgão especifico.
A medida que progride o crescimento de um tumor sólido, as células soltam-se da
massa tumoral original e viajam pelo sangue e sistema linfático, para produzir
metástase em locais diferentes. Os cânceres hematológicos envolvem as células
formadoras do sangue que naturalmente migram para o sangue e sistema linfático,
tornando-os doenças disseminadas.
Figura 4. Tumor maligno (adenocarcinoma) do cólon. Observa-se glândulas cancerosas de formas e tamanhos irregulares e não se assemelham as glândulas colônicas normais. |
2.3 CARACTERISTICAS DA CÉLULA CANCEROSA
As células
cancerosas, ao contrario das normais, não sofrem proliferação e diferenciação
normais. Acredita-se que as células cancerosas se desenvolvam de mutações que
ocorrem durante o processo de diferenciação. Quando a mutação ocorre bem cedo
no processo, o tumor resultante é pouco diferenciado e altamente maligno;
quando ocorre mais tarde no processo, resultam tumores diferenciados melhor e
menos malignos.
O termo anaplasia é usado para descrever a falta
de diferenciação celular no tecido canceroso. As células cancerosas
indiferenciadas são alteradas em aspecto, tamanho e forma do núcleo em relação às
células do tecido do qual o câncer se originou. As células altamente anaplásicas, seja qual
for seu tecido de origem, começam a se assemelhar umas as outras mais que em
seu tecido original. Por exemplo, quando
examinamos ao microscópio, o tecido canceroso que se originou no fígado não tem
o aspecto o tecido hepático normal.
As alterações na
diferenciação celular são acompanhadas por mudanças nas características
celulares e funcionamento da célula que distinguem as células cancerosas de
suas contrapartes normais totalmente diferenciadas. Estas mudanças consistem na
inibição por contato, perda da coesividade e adesão, prejuízo da comunicação
célula-célula, expressão dos antígenos tissulares alterados e elaboração das
enzimas degradativas que participam na invasão e dispersão metastática.
A inibição por
contato é o termino do crescimento após uma célula entrar em contato com outra.
Essa inibição geralmente desliga o crescimento celular, bloqueando a síntese de
DNA, RNA e proteínas. Na cicatrização de feridas, a inibição por contato faz
com que o crescimento de tecido fibroso pare no ponto onde as margens da ferida
se juntam. Entretanto, as células cancerosas tendem a crescer sem levar em
conta os outros tecidos. A reduzida tendência das células cancerosas em se unir
(coesivamente e adesivamente) permite que as células da superfície do tumor se
soltem. Estas células aparecem nos líquidos corpóreos vizinhos ou secreções,
podendo, geralmente, ser detectadas usando o teste de Papanicolaou (Pap.). O
impedimento da comunicação célula-célula interfere na formação das conexões
intercelulares e respostas aos sinais derivados da membrana.
As células cancerosas
expressão varias moléculas ou antígenos de superfície celular imunologicamente
identificados como exógenos. Estes antígeno
tissulares são codificados pelos genes das células. Muitas células
cancerosas transformadas revertem a estágios iniciais de expressão gênica e
produzem antígenos imunologicamente distintos dos antígenos expressos pelas
células de tecido bem diferenciado do qual se originou o câncer.
2.4 METÁSTASE
São implantes
tumorais descontínuos em relação ao tumor primário. As metástases
inequivocadamente definem um tumor como maligno, visto que as neoplasias
malignas não se metastatizam. A invasão dos cânceres permite a sua penetração
nos vasos sanguíneos, linfáticos e cavidades corporais, proporcionando-lhes,
assim, a oportunidade da disseminação.
Quanto mais
agressiva, de crescimento rápido e maior neoplasia primaria, maior a
probabilidade de sofrer metástase ou de já apresentar metástase. Em cerca de 30% dos pacientes recém
diagnosticados com tumores sólidos,estes se apresentam com metástases. A
disseminação metastática reduz acentuadamente a possibilidade de cura. Por
conseguinte, na ausência de formas de prevenção do câncer, nenhuma medida
poderia ser mais benéfica para o paciente doo que métodos para impedir a sua
disseminação distante.
Figura
5. Fígado salpicado de câncer metastático.
2.4.1 Vias de disseminação
A disseminação dos
cânceres pode ocorrer de 3 formas:
û
Implantação nas
cavidades corporais e superfície. Pode ocorrer implantação nas cavidades
corporais e superfície toa vez que uma neoplasia maligna penetrar num “campo
aberto” natural. A cavidade peritoneal é a mis frequentemente afetada, embora
qualquer outra cavidade – pleural, pericárdica, subaracnóide e espaço articular
– possa ser o sitio de implantação. Essa implantação é particularmente
característica dos carcinomas que surgem nos ovários, quando, não raramente,
todas as superfícies peritoneais tornam-se recobertas por uma espessa camada de
“verniz” canceroso. Notavelmente, as células tumorais podem permanecer
confinadas a superfície da víscera abdominal revestida, sem penetrar na
substancia. Algumas vezes, os carcinomas de ovário e apêndice secretores de
muco preenchem a cavidade abdominal com uma massa neoplásica gelatinosa,
descrita como pseudomixoma peritonei.
û
Disseminação
linfática. O
transporte através dos linfáticos constituem a via mais comum para a
disseminação inicial o carcinomas; entretanto, os sarcomas também podem
utilizar essa via. A ênfase na disseminação linfática dos carcinomas e na
disseminação hematogênica dos sarcomas é enganadora, visto que, em última
analise, existem numerosas interconexões entre o sistema vascular e o
linfático. O padrão de comprometimento dos linfonodos segue as vias naturais de
drenagem. Em muitos casos, os linfonodos regionais atuam como barreiras
eficazes contra a disseminação posterior do tumor, pelo menos durante algum
tempo. Admite-se que as células, após a sua retenção no linfonodo, podem ser
destruídas. Uma resposta imune especifica para o tumor pode participar nessa
destruição celular. A drenagem dos restos de células tumorais ou de antígenos
tumorais, ou de ambos, também innduz alterações reativas dentro dos linfonodos.
P or conseguinte, o aumento dos
linfonodos pode ser causado por disseminação e crescimento de células
cancerosas e por hiperplasia reativa. Por conseguinte, o aumento de linfonodos
nas proximidades de um câncer não indica, necessariamente, a disseminação da
lesão primaria.
û
Disseminação
hematogênica. A
disseminação hematogênica é típica de sarcomas, mas também é utilizada por
carcinomas. As artérias, com suas paredes espessas, são menos facilmente
penetradas do que as veias. Entretanto, pode ocorrer disseminação arterial
quando as células tumorais atravessam os leitos capilares pulmonares ou
derivações arteriovenosas pulmonares, ou quando as próprias metástases
pulmonares dão origem a êmbolos tumorais adicionais. Nessa disseminação
arterial, vários fatores condicionam os padrões de distribuição das metástases.
Com a invasão venosa, as células transportadas no sangue seguem o fluxo venoso,
drenando o local da neoplasia. Como se sabe, o fígado e os pulmões são mais
frequentemente afetados de forma secundaria nessa disseminação hematogênica.
Toda a drenagem da área portal flui para o fígado, e todo o sangue caval flui
para os pulmões. Os cânceres que surgem em estreita proximidade com a coluna
vertebral quase sempre embolizam através do plexo paravertebral, e essa via
provavelmente esta envolvida nas frequentes metástases vertebrais de carcinoma
da tireoide e próstata.
Figura 6. Comparação
entre tumor benigno do miométrio (leiomioma) e tumor maligno de origem
semelhante (leiomiossarcoma).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proliferação
celular é o processo pelo qual as células se dividem e geram uma prole. Ela é
normalmente regulada de modo que o número de células que estão ativamente se
dividindo seja igual ao número de células que estão morrendo ou sendo
descartadas. Diferente dos processos adaptativos normais, tais como hipertrofia
e hiperplasia, as neoplasias não obedecem às leis de crescimento celular
normal.
A maioria dos tecidos
sofre esse constante processo de renovação, caracterizada por um processo ativo
de alterações morfológicas e bioquímicas, a apoptose. A apoptose é também um
mecanismo de defesa, que é ativado sempre que ocorre uma invasão por agentes
patogênicos, ou ainda quando o DNA for lesado. A compreensão dos mecanismos e
das alterações nos componentes das vias apoptóticas e sua correlação com a
ocorrência do câncer são importantes para o desenvolvimento de novas terapias e
métodos de prevenção do câncer.
REFERÊNCIAS
COTRAN, RAMZI.;
KUMAR,VINAY.; COLLINS, TUCKER. Patologia
estrutural e funcional. Ed. Guanabara koogan, 6º edição. P. 16 – 25 e 233 –
293.
GRIVICICH, IVANA.; REGNER,
ANDRÉA.; BRONDANI DA ROCHA, ADRIANA. Morte
Celular por Apoptose. 2007. Disponível em: <http://www1.inca.gov.br/rbc/n_53/v03/pdf/revisao4.pdf>.
Acesso em: 09 mai. 2012
Porth, Carol Mattson. Fisiopatologia. Ed. Guanabara Koogan,
6º edição. P. 143 – 170.
Figuras:
COTRAN, RAMZI.;
KUMAR,VINAY.; COLLINS, TUCKER. Patologia
estrutural e funcional. Ed. Guanabara koogan, 6º edição. P. 233 – 293.
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